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Conto: Um verdadeiro Astro

Conto: Um verdadeiro Astro

Um verdadeiro Astro! Conto infantil criado especialmente para a campanha: “Doe um livro para a Biblioteca Manatus e incentive leitores mirins “.

Quando recebi o convite da Fundação @mamiferosaquaticos para ser a madrinha da campanha, fiquei muito feliz. E esse conto é uma singela homenagem a todas as pessoas que fazem parte da FMA, do projeto @vivaopeixeboimarinho , dos “tios” e crianças da Biblioteca Manatus e, claro, uma homenagem ao peixe-boi Astro, que “escolheu” a região de Coqueiro para viver.
Espero que gostem e se divirtam com essa aventura onde há uma mistura de realidade e fantasia.

Um verdadeiro Astro

(Marcela Franca)

– Bom dia, crianças! – Tia Luana abriu a porta da Biblioteca Manatus.

– Bom dia, tia Luana! – Todas as crianças responderam ao mesmo tempo.

Os pequeninos do povoado de Coqueiro fizeram uma grande roda e sentaram-se no chão, esperando o teatrinho de fantoches que já ia começar. Foi quando um fantoche de cabelos compridos usando roupa rosa e boné surgiu por detrás das cortinas brancas e encostou-se no tablado de madeira. Maria, Davi e Tifane aplaudiam sem parar, admirados em ver aquela boneca falante.

– Meu nome é Leiturinha – disse a boneca engraçada. – Mas vocês podem me chamar de Lelê. Eu vou ensinar-lhes várias brincadeiras legais e tenho certeza de que iremos nos divertir muito. Vamos começar? Lázaro, eu quero que você desenhe algum mamífero aquático aqui neste quadro verde.

– Ela sabe o meu nome! – Lázaro se espantou e todas as outras crianças começaram a rir.

O menino não perdeu tempo e foi logo pegando várias cores de giz. Ele desenhou um peixe-boi-marinho, animal grande e arredondado com duas nadadeiras, uma de cada lado, e uma cauda que lembrava uma pá.

– Muito bem! – disse tia Luana. – Está igualzinho ao peixe-boi que assistimos no vídeo da semana passada.

– Alguém aqui sabe me dizer o que o peixe-boi gosta de comer? – perguntou Lelê.

– Eu sei, eu sei! – Natália levantou a mão. – Sorvete e brigadeiro. – falou a inocente menina que acabara de se mudar para o povoado e ainda não entendia nada sobre peixes-boi.

– Não, não, não, menina! – a boneca se agitou e riu de nervoso. – Esses animais não podem comer esse tipo de coisa. Aliás, não podemos tocar neles, muito menos oferecer qualquer tipo de bebida ou alimento, certo?

– Mas ele é tão grande. – disse Levi. – Parece que está sempre com fome. – Todos caíram na gargalhada, mais uma vez.

– Continuando… – Lelê pigarreou. – Peixes-boi são herbívoros e adoram vegetação aquática. Apesar de muito comilões, são animais inteligentes e sabem muito bem onde procurar comida. Outra curiosidade legal é que eles se comunicam através dos sons, pequenos “gritos” chamados de vocalizações.

– Uau! Peixes-boi parecem ser tão fofinhos – disse a pequena Vanessa. – E ainda sabem “cantar”!

– Eles são muito amigáveis e calmos, mas devemos admirá-los de longe – explicou Lelê.

A boneca de pano ensinou uma canção para as crianças sobre como cuidar do Meio Ambiente, pediu que elas desenhassem seus animais preferidos numa folha de papel e depois se despediu deixando-as com outra missão: a de se aventurarem no mundo dos livros.

Com a ajuda de tia Luana, a turminha conheceu diversas histórias de príncipes, princesas, super-heróis e até de animais falantes. Juliana se encantou com o livro Scamonis, um reino encantado cheio de sereias e tritões, tartarugas brilhantes e conchas gigantes. Já Alice amou conhecer a história de Alice no País das Maravilhas e encontrar uma personagem com o nome igualzinho ao seu. Lorenzo, Nelsinho e Hagata se divertiram com as aventuras da boneca Emília, do escritor Monteiro Lobato. Lucas e Davi embarcaram na viagem musical de As Viagens de Zequinha. Miguel se sentiu um dos piratas do livro Kim Becker, enquanto Vanessa, Tifane e Caio conheceram O Jardim Secreto da pequena Mary e a fantasia do bruxinho Harry Potter.

Nesse momento, um rapaz entrou na biblioteca e as crianças pararam para observá-lo. Ele parecia animado e cheio de novidades.

– Eu vim buscá-los para o nosso passeio na praia – disse tio Allan. – Quero apresentar a vocês alguém famoso que acabou de chegar de Sergipe.

As crianças formaram uma fila indiana e seguiram tio Allan em direção à praia. O céu estava azul e sem nuvens, sem dúvida era um belo dia no pacato povoado de Coqueiro, na Bahia.

O grupo seguiu a pé passando por uma igrejinha e por algumas casas até chegar à praia. A areia era branquinha e o lugar rodeado de altos coqueiros. Um pequeno barco de madeira estava parado na beira da água.

– Chegamos – disse tio Allan. – Preparados para conhecerem uma celebridade?

– Não estou vendo ninguém por aqui – observou Caio. – Estamos sozinhos.

O menino tinha razão. A praia estava deserta e não havia nenhuma pessoa famosa por ali. Então tio Allan apontou o dedo para a água e a sombra de um grande animal se destacou.

– É um peixe-boi-marinho de verdade! – disse Vanessa. – Eu falei que ele era fofinho!

– Mas o que este peixe-boi tem de tão especial, tio Allan? – perguntou Lázaro.

– Este não é um peixe-boi comum, crianças. O nome dele é Astro. Foi encontrado ainda filhote, encalhado numa praia, depois cuidado pela Fundação Mamíferos Aquáticos e parceiros até ser devolvido à natureza. De lá para cá, Astro sobreviveu a vários atropelamentos por embarcações motorizadas e sofreu grande risco quando as praias do Nordeste ficaram poluídas de óleo. Astro é uma verdadeira celebridade.

A turminha ficou eufórica ao ouvir aquela história tão incrível sobre o peixe-boi e não parou de fazer perguntas. Mas já estava ficando tarde e tio Allan precisava levá-los de volta à Biblioteca Manatus.

Eles formaram novamente uma fila para seguir o caminho de volta, quando Nelsinho puxou Tifane e Lorenzo para perto do barquinho de madeira.

– O que está fazendo? – Questionou Lorenzo. – O pessoal já está indo embora.

– Não vamos demorar – disse Nelsinho. – É que eu quero ver o peixe-boi mais de perto.

– Você não aprendeu nada na aula da Lelê? – Perguntou Tifane. – Não podemos tocar no peixe-boi! Garotos são tão bobos às vezes…

– Não seja tão medrosa, Tif! – Nelsinho parecia não ligar para os conselhos da amiga. – O que de mal pode acontecer?

– Ficarmos de castigo! – Lorenzo respondeu. – Vamos embora!

Sem dar ouvidos aos amigos, Nelsinho subiu no barquinho para ver Astro mais de perto. Foi quando um enorme barulho soou e o peixe-boi se agitou colocando a cabeça para fora da água. As crianças gritaram e Nelsinho ficou branco como uma folha de papel.

– Você não deveria estar aqui, menino. – disse o peixe-boi. – Tio Allan não vai gostar nada, nada dessa travessura!

– Vo-vo-você fala! – Nelsinho ficou boquiaberto. – Será que estou ficando doido?

– Eu também ouvi – confessou Lorenzo. – Então acho que estou louco também.

– Não nos faça mal, Sr. Astro. – disse Tifane. – Nós só queríamos te conhecer melhor.

– Crianças não deveriam ficar sozinhas na praia e nem desobedecer aos adultos. Bem, mas já que estão aqui… Vou contar a vocês um pouquinho da minha história. Que tal uma canção?

Astro abriu a boca e começou a cantar:

De tanto mergulhar até em Coqueiro chegar, eu levo a vida que sempre quis.

Nem sempre foi assim, filhotes encalham sim, mas tenho histórias para contar.

Os humanos cuidaram de mim, deram carinho e proteção.

Mas chegou a hora de partir e brilhaaaar.

***

De tanto mergulhar até em Coqueiro chegar, eu levo a vida que sempre quis.

Mas fujo de embarcações, de óleos, poluições.

Quero ser livre para nadar.

Passear de Sergipe à Bahia, comer capim-agulha todo dia.

E quem sabe o meu amigo Tupã encontraaar.

***

Eu tenho o corpo grandão, adoro vegetação, estuários e manguezais.

Sou peixe-boi, sou Manatus, sou o rei do pedaço.

Eu sou um verdadeiro Astro.

Antes de se despedirem de Astro, as três crianças prometeram que seriam mais obedientes e que nunca se esqueceriam da importância de cuidar da natureza, especialmente das plantas e dos animais. Nelsinho, Tifane e Lorenzo voltaram para a biblioteca, extasiados. Eles contaram aos outros sobre o que acabara de acontecer na praia, mas ninguém acreditou. O trio não sabia se o que tinha vivido era real ou fantasia, mas de uma coisa todos tinham certeza: aquele peixe-boi era um verdadeiro Astro.

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